Sofia e o Sol
terça-feira, outubro 12
Sofia acordou às 05:50 da manhã, como de costume. O sol ainda não atingira o seu brilho intenso e mortal de 40ºC; mostrava-se aos poucos, tímido, sem nenhuma pressa. Era quinta feira e Sofia adorava as quintas feiras: era dia de história, sua matéria preferida. Por ser o melhor dia da semana, a menina resolveu que também seria o dia certo para finalmente deixar seu medo de lado e entregar o seu coração para aquele garoto que ela tanto admirava secretamente. Eles eram amigos, ou pelo menos ela o considerava assim. Ele sempre fora um rapaz misterioso, do tipo fechado e de poucas palavras e ações. Por esse motivo ela nunca falava em voz alta o que sentia. Pensou que demonstrar carinho e atenção seria suficiente para que ele a entendesse e a enxergasse como ela queria que o fosse. Mas Sofia estava errada, não era o suficiente. Não é como se "um olhar valesse mais do que mil palavras". Não quando a pessoa de quem você gosta não te olha o bastante para ser capaz de ler o que há escrito neles.
Sofia seguiu corretamente sua rotina matinal: tomou banho, escovou os dentes, vestiu o uniforme do colégio, teve dificuldades ao colocar o jeans apertado, comeu seu café da manhã usual. Tudo corria exatamente como nos outros dias, exceto pelas borboletas que incomodavam o estômago da menina. "Vai dar tudo certo", Sofia repetia indefinidas vezes em sua mente. Ela não poderia deixar que pensamentos ruins estragassem aquela chance que tanto ensaiara. Colocou os livros certos da quinta feira e acrescentou um livro qualquer em sua bolsa - ela gostava de carregar um livrinho de bolso, como Alice no país das maravilhas -. Estava tudo pronto.
O sinal ainda não tocara, ela chegara no colégio cerca de dez minutos mais cedo. O menino ainda não estava lá, ele costumava chegar sempre após o toque. Ela haveria de esperar... As três primeiras aulas passaram rapidamente, eram as aulas de história que ela tanto gostava. O menino já ocupava o mesmo ambiente e ela podia sentir sua presença, mesmo ele não falando nada durante mais ou menos cento e trinta e cinco minutos. O sinal para o primeiro intervalo tocou e Sofia sentia novamente aquelas borboletas em seu estômago. Era agora ou nunca. Ela iria chamá-lo por um segundo, iria entregar seus sentimentos em uma caixinha e esperar que ele aceitasse tomar conta dela. Mas quanto mais Sofia se aproximava mais suas mãos suavam e suas pernas pesavam. Tudo parecia mais fácil quando ela planejara. Agora que estava ali, a alguns metros do garoto, só o que conseguia pensar era no quão errado aquilo parecia. E sua coragem foi se escondendo, tal como o sol entre as nuvens fofas e macias. Uma gota de água escorreu em sua face e não era sua lágrima. Sofia olhou para o céu. O tempo se alterara drasticamente. Aquele sol amarelo e quente já não brilhava tão forte. As nuvens já não pareciam feitas de algodão. O céu chorava. E Sofia se deixou chorar com ele.
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