Inacabado
segunda-feira, março 14
Era uma noite fria e silenciosa. Havia poucos carros passando em um intervalo de tempo longo. Alguém poderia facilmente atravessar a rua sem precisar olhar para os dois lados. Porém, na esquina, uma pessoa esperava o sinal mudar de cor. Parecia calma, imparcial. A julgar pelos trajes e pelo cabelo amarrado num belo penteado, diria que vinha de um evento formal, de um casamento, quem sabe. Flagrei-me admirando-a, desde seu tornozelo que estava a mostra, à face, pálida e misteriosa. O sinal então abre e a mulher de vestido longo caminha pela faixa, aproximando-se lentamente. Não sei a razão para o que me ocorreu naquele momento e acho que nunca saberei. O que sei foi o que senti. E senti, subitamente, a frequência dos batimentos aumentando, minhas mãos suando frio; um nó na garganta. Comportamento estranho diante de alguém desconhecido, você deve pensar. Mas qualquer cristão se portaria assim, ao ver aquele par de olhos azuis claros, tão claros e brilhantes, azul topázio. Por uma fração de segundos pensei estar em outro mundo, quando aquelas esferas me fitaram. Voltei a mim e desviei o olhar para o semáforo, esperando o sinal verde brilhar novamente. Em condições normais eu continuaria encarando-a depois a cumprimentaria e chamaria para um café. Mas a minha mente dizia que nós pertencíamos a mundos diferentes. O sinal já não era mais vermelho e um carro parava próximo a faixa.
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