<meta name='google-adsense-platform-account' content='ca-host-pub-1556223355139109'/> <meta name='google-adsense-platform-domain' content='blogspot.com'/> <!-- --><style type="text/css">@import url(https://www.blogger.com/static/v1/v-css/navbar/3334278262-classic.css); div.b-mobile {display:none;} </style> </head><body><script type="text/javascript"> function setAttributeOnload(object, attribute, val) { if(window.addEventListener) { window.addEventListener('load', function(){ object[attribute] = val; }, false); } else { window.attachEvent('onload', function(){ object[attribute] = val; }); } } </script> <div id="navbar-iframe-container"></div> <script type="text/javascript" src="https://apis.google.com/js/platform.js"></script> <script type="text/javascript"> gapi.load("gapi.iframes:gapi.iframes.style.bubble", function() { if (gapi.iframes && gapi.iframes.getContext) { gapi.iframes.getContext().openChild({ url: 'https://www.blogger.com/navbar/6662582461255816258?origin\x3dhttp://sombrasporaqui.blogspot.com', where: document.getElementById("navbar-iframe-container"), id: "navbar-iframe" }); } }); </script>
Papo de coração furado
Marcas
terça-feira, outubro 2

     O tempo passa na cadeira de balanço, e a senhora que um dia foi moça espera. Espera por tempo melhor, pelo que já passou, pelo que ainda vem chegar. Veste seu melhor vestido de estampas floridas, quem sabe pra dizer que ainda há felicidade na sua solidão. Mas seus olhos não negam o quanto faz falta o passado, as pessoas que por ela passaram e se foram, e a deixaram, assim, em sua cadeira de balanço. A senhora vê mas não enxerga as letras mais pequenas, sente falta dos livros e das viagens que fazia a cada folheada. Sente falta de seus cabelos castanhos, do modo como o vento os levava. 
      A senhora fala dos tempos de menina, dos puxões de orelha que recebia da mãe pelo desinteresse na costura, da alegria ao conseguir fazer uma calcinha de babados, do morro, da casinha de barro. A senhora fala do seu primeiro amor, de seu esposo que batalhava nos canaviais pro sustento da família, da quantidade absurda de filhos que teve, do amor feito, do desconhecimento da pílula. A senhora fala e eu vejo sua história através das marcas do tempo em seu corpo, dos ossos aparentes, dos cabelos brancos, das olheiras e dos olhos afundados na melancolia da lembrança. A senhora fala e eu enxergo a tristeza da memória, das coisas passadas, do que foi deixado para trás, do que partiu. Eu vejo a solidão de quem já viveu tempo bastante, de quem foi esquecido, na cadeira de balanço. Eu leio o abandono em suas feições, o descaso, a cólera, a consciência de sobreviver não de viver. A senhora fala e eu compreendo seus sonhos, seus desejos, seus medos. A senhora se agarra à bíblia, ora para Deus do céu, mas tem medo de partir a seu encontro. E tem medo também de não partir. A senhora teme o escuro, as coisas que não pode ver, as coisas que podem acontecer e as que acontecem. A senhora tem fé porque só a fé lhe resta. A fé e as marcas, as lembranças e a caixinha dos remédios; a cadeira de balanço.